Após a declaração do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de que a rede deixaria de comprar carne do Brasil, os maiores frigoríficos brasileiros, como JBS (Friboi), Marfrig e Masterboi, decidiram suspender o fornecimento de carne à rede, que também controla o Atacadão. As empresas começaram a cortar o fornecimento entre quinta e sexta-feira, mas não comentaram oficialmente sobre a decisão.
Em resposta à situação, várias associações do setor, incluindo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), emitiram uma nota conjunta. Elas afirmaram que, se o executivo considera que o Mercosul não é um fornecedor à altura para o mercado francês, também não deveria ser para o Carrefour em outros países. As entidades reafirmaram seu compromisso com uma produção responsável e sustentável.
As associações destacaram a importância do Mercosul como líder mundial na exportação de carne de frango e bovina, ressaltando que levaram décadas para construir uma reputação internacional sólida. O setor se posiciona como um fornecedor confiável, especialmente durante a pandemia. Procurado, o Carrefour no Brasil afirmou que não há desabastecimento nas lojas.
A situação também provocou reações no setor de serviços. A Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp) se manifestou contra a postura do Carrefour, convocando os empresários do setor a boicotarem a rede de supermercados enquanto ela continuar desvalorizando os produtos brasileiros.
O conflito está ligado a um potencial acordo entre a União Europeia e o Mercosul, previsto para ser finalizado até o fim do ano, o que gerou protestos na França por parte dos agricultores. Durante o G20 no Rio, o presidente francês, Emmanuel Macron, reafirmou sua posição contrária ao acordo, que tem sido negociado desde 1999, citando preocupações com a concorrência de produtos brasileiros e argentinos.
Macron é visto como o principal obstáculo para o avanço do acordo, e a Itália manifestou apoio à sua posição. No entanto, a Comissão Europeia, com o respaldo de países como Alemanha e Espanha, é favorável à conclusão do acordo. Se a Comissão seguir em frente sem o consenso francês, Macron precisará de apoio de outros países da UE para bloquear a aprovação, formando uma “minoria de bloqueio”.
A crise entre o Carrefour e os frigoríficos brasileiros não apenas reflete tensões no setor de carne, mas também ilustra as complexas dinâmicas políticas e econômicas em jogo nas negociações internacionais. A situação poderá ter repercussões significativas para o comércio e a imagem do Brasil no mercado global.