Outubro Rosa

Lula diz após megaoperação com 121 mortos no Rio que ‘crime organizado não pode continuar destruindo famílias’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira após a megaoperação contra o Comando Vermelho que deixou ao menos 121 mortos no Rio que “não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias”. Na primeira manifestação do presidente após a operação mais letal da polícia no Rio, Lula ainda defendeu “trabalho coordenado” que mire a “espinha dorsal do tráfico”:

“Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, escreveu nas redes sociais.

Lula defendeu ainda a integração entre o trabalho do governo federal e estadual no combate ao crime e citou a Operação Carbono Oculto contra a infiltração do PCC no setor de combustíveis, que teve parceria entre Polícia Federal e as polícias do Estado de São Paulo:

“Foi exatamente o que fizemos em agosto na maior operação contra o crime organizado da história do país, que chegou ao coração financeiro de uma grande quadrilha envolvida em venda de drogas, adulteração de combustível e lavagem de dinheiro. Com a aprovação da PEC da Segurança, que encaminhamos ao Congresso Nacional, vamos garantir que as diferentes forças policiais atuem de maneira conjunta no enfrentamento às facções criminosas.”

Criação de Escritório de Combate ao Crime Organizado

Após um encontro no Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciaram nesta quarta-feira a criação de Escritório de Combate ao Crime Organizado para “eliminar barreiras” entre os governos estadual e federal. O grupo será comandando pelo secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Cesar Santos, e pelo secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo. O anúncio foi feito após uma reunião entre os entes federativos. Além disso, o estado poderá recrutar peritos criminais da União e aumentar o efetivo da Forca Nacional do Rio e da Polícia Rodoviária Federal no Rio. Há o entendimento também de aumentar as ações de inteligência da Polícia Federal para sufocar o braço financeiro das quadrilhas.

PF foi avisada

Mais cedo, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) havia afirmado que o aviso do setor de inteligência da Polícia Militar do Rio à Superintendência da Polícia Federal no estado sobre o planejamento da operação nos complexos do Alemão e da Penha não foi um “pedido de ajuda institucional”.

— Depois soubemos que a PF do Rio foi informada da operação quando estava planejada e já ia ser realizada, a e PF lá (no Rio) não achou razoável a operação e não quis participar. Não foi pedido de ajuda institucional, do ponto de vista de governo (estadual) ao governo federal. De fato, nós não fomos avisados. Não teve pedido de GLO nem de nenhuma ajuda por parte do governo de estado ao governo federal — afirmou Gleisi à GloboNews.

Mais cedo, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, havia admitido que a Polícia Militar do Rio fez uma consulta à corporação sobre a participação na operação que cumpriu mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho. Segundo ele, porém, a avaliação foi que não caberia a entrada dos agentes federais na ação. A ação deixou 119 mortos, incluindo quatro policiais, de acordo com o governo do Rio.

— Houve um contato anterior, do pessoal da inteligência da Polícia Militar com a nossa unidade do Rio de Janeiro, para ver se haveria a possibilidade de atuar em algum ponto nesse contexto — disse ele. — A partir da análise do planejamento operacional, nossa equipe entendeu que não era uma operação razoável para que a gente participasse.

Disputa política

Essa foi a primeira vez que uma integrante do governo federal admitiu ter sido consultado sobre ajuda na operação do Rio, a mais letal já realizada no estado. A crise de segurança motivou uma disputa política entre a gestão de Cláudio Castro com a equipe de Lula.

Em entrevista na terça-feira, Castro, reclamou falta de cooperação do governo federal no combate ao crime organizado no estado e citou que três pedidos de blindados, feitos anteriormente às Forças Armadas, foram negados pela gestão federal. Integrantes da administração petista, contudo, afirmam que esses empréstimos só poderiam ser feitos em caso de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), e citam que a Força Nacional atua no estado desde 2023.

Ao citar a consulta feita pela PM do Rio, Rodrigues afirmou que a PF, ao ter um conhecimento “geral” do planejamento da ação, identificou que não teria “nenhuma atribuição legal para participar”:

— Para ficar bem claro, houve um contato no nível operacional, informando que haveria uma grande operação e se PF teria alguma possibilidade de atuação na sua área e no seu papel. Nós identificamos, nossa equipe do Rio de Janeiro, a partir da análise geral do planejamento, não tivemos detalhes a mais do planejamento. A partir da análise geral entendemos que não era o modo como a PF atua, o modo de fazer operações. Então, o colega do Rio de Janeiro informou o seu contato operacional que a PF segue seu trabalho de investigação, fazendo seu trabalho de inteligência, mas que naquela operação, que é do estado, tinha mais de 100 mandados, do estado do Rio, não teríamos nenhuma atribuição legal para participar. Não fazia sentido nossa participação.

Rodrigues afirmou ainda que foi comunicado, por essas razões, de que a participação da PF havia sido descartada. O delegado também afirmou que a PF não sabia quando a operação seria deflagrada.

— O meu superintendente comunicou depois de que foi descartada essa possibilidade de participação por falta de atribuição. A deflagração dessa operação não nos foi comunicada — disse.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que a troca de informações sobre uma operação dessa magnitude não pode ser feita em nível de segundo e terceiro escalão:

— A comunicação entre governantes tem que se dar dentro de uma hierarquia mais elevada. Uma comunicação desse nível, desse porte, não pode ser acordada por segundo ou terceiro escalão. Se fosse uma operação que exigisse a interferência do governo federal, o presidente da república deveria ter sido avisado, o ministro da Justiça ou o próprio diretor-geral da Polícia Federal — disse o ministro — Ela (a Polícia Federal) foi comunicada de alguns detalhes, dos planos que estavam sendo engendrados no Rio de Janeiro, no âmbito local.

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