O desmatamento e as mudanças climáticas provocadas pela expansão do agronegócio, tem ameaçado cada vez mais os biomas brasileiros. Por conta deste cenário, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criou em 2020 o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com a meta de plantar 100 milhões de árvores em dez anos.
Recuperar áreas naturais, cultivando árvores, é uma tarefa fundamental para combater e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, e uma estratégia também para garantir a segurança hídrica e alimentar das famílias rurais.
“Além de simplesmente plantar árvores, o plano tem o objetivo mais geral de chamar atenção da sociedade brasileira para a necessidade de se debater a questão da preservação do meio ambiente e do combate à crise climática a partir de uma perspectiva popular, porque o MST entende que só se preserva o meio ambiente se tem povo envolvido, produção de alimentos e distribuição de terra. Porque a prática concreta e histórica nos mostra que onde há floresta preservada e meio ambiente preservado, há povos indígenas, camponeses, quilombolas e ribeirinhos”, explica Camilo Augusto Ramalho Santana, do setor de Juventude do MST de Roraima.
A variedade cultivada pelo MST nas escolas do campo, cooperativas, centros de formação, praças, avenidas e cidades é grande: são árvores nativas, frutíferas, ornamentais, hortaliças e até medicinais. Tudo é aproveitado: frutas, sementes, cascas e também as raízes.
“Para plantar cem milhões de árvores, precisamos de muda, de semente, de gente trabalhando. Então a gente faz isso em todos os nossos estados onde o MST está organizado, Temos a rede de viveiros da Reforma Agrária Popular, com mais de 150 viveiros das mais diversas formas, desde viveirinho pequeno, de fundo de quintal, até viveiros com capacidade de produção de trezentas mil mudas por ano”, ressalta Camilo.
Em Alagoas, a luta das famílias sem terra para manter os umbuzeiros, umburanas e catingueiras em pé tem sido um desafio. Aline Oliveira, do setor de Juventude do MST, destaca o papel da apicultura para conter o processo de desertificação da caatinga.
“Nós falamos que sem abelhas não há vida. E as abelhas têm ido embora por causa da falta de flores e a destruição do bioma. E hoje não se pensa a apicultura sem plantar árvores e não se dá para pensar a agricultura também sem as abelhas”, destaca a jovem, contextualizando a questão identitária e de reconhecimento do bioma em que convive: “cuidar e zelar a caatinga, é cuidar e zelar pela a identidade do povo nordestino. Por isso o desafio de apontar esse bioma como um patrimônio nacional”.
Nos três primeiros anos de Campanha, já foram 10 milhões de árvores plantadas em todo o Brasil. Para o MST, o plantio de árvores colabora também com a organização da produção nos assentamentos e acampamentos do MST e na geração de renda dessas famílias.
“As nossas cadeias produtivas estão hoje interligadas com o plantio de arvores. Não há produção de comida sem plantio de árvores. As nascentes precisam das arvores, nós precisamos das águas, e sobretudo, os camponeses. Por isso, hoje a nossa bandeira de luta do plano passa pela questão ambiental. A questão ambiental perpassa a luta do movimento sem terra hoje”.